sábado, 22 de agosto de 2009

Fernando de Noronha

O lugar que muita gente relaciona a lua de mel é perfeito também para o que na maioria das vezes vem depois: os filhos. Eu me apaixonei pelo arquipélago pernambucano em 1994, aos 22 anos. Desde então, foram sete visitas, sendo que as duas últimas (2008 e 2009), com Diana (nascida em 2006) e Luca (nascido em 2002). Com crianças, Noronha é um turismo que dá trabalho - mas é prazer a perder de vista.

Antes de embarcar, pesquise, converse com os amigos, faça suas contas. Você vai entender por que Fernando de Noronha custa caro e por que vale cada centavo. Somente duas mil pessoas moram na ilha principal de Fernando de Noronha. Estrangeiro que quer ficar tem de buscar uma espécie de green-card. Ou casa-se com alguém de lá ou associa-se a algum morador em pequenos negócios invariavelmente voltados para o turismo.

O controle dos visitantes é rigoroso. Uma taxa ambiental é paga ainda no aeroporto ou pela internet antes do embarque. O valor é destinado à coleta de lixo, às consequencias do excesso de gente em terra e no mar. Como a quantia a ser desenbolsada aumenta em uma quase progressão geométrica, isso impede que turistas decidam ficar por muito mais tempo do que o planejado.

Portanto, deixemos a economia e a preguiça de lado e vamos juntos a Noronha. Opção de hospedagem é hoje o que não falta. Os estilos vão desde resorts cinco estrelas às hospedarias domiciliares - casas de moradores transformadas em pousadas extremamente simples. Os restaurantes também são variados. Existem bistrôs em Fernando de Noronha. Da última vez, jantei filé com risoto de limão siciliano, imaginem só, num ambiente de pufes, móveis indonésios e ar condicionado. Também saboreei um magnífico peixe na folha de bananeira, numa barraca de chão de areia, a pouco metros do mar. Ou seja, tem de tudo, para todos os perfis.

Existem XX praias na ilha principal de Fernando de Noronha. Eu desafio que me digam qual delas é a mais bonita. Eu nunca cheguei a essa conclusão porque divido as faixas de areia em categorias:

- Praia mais badalada: da Conceição, porque é de fácil acesso, tem barraca de bebidas e comidinhas, música ótima, mar calmo, dá para mergulhar com os peixes, tem luau uma vez por mês, para ver e ser visto durante o dia e no por do sol.

- Praia mais deliciosamente farofa: do Cachorro, porque fica embaixo da Vila dos Remédios, os moradores locais frequentam com suas familias em suas folgas, tem barraca de aperitivos, futebol de fim de tarde, mar calmíssimo para as crianças.

- Praia dos sonhos de surfista: Cacimba do Padre, bem selvagem, de mar perigoso para quem não sabe nadar, areia branquinha, Morro Dois Irmãos na paisagem, palco de campeonatos de surf na ilha.

- Praia mais exuberante: do Leão, em homenagem a uma ilhota em forma de leão-marinho, longe da BR-163, muito vento, berçario de tartarugas, muitas vezes de acesso restrito na época da desova.

- Praia mais família: Sueste, água calmíssima, numa das pontas da ilha. Leve sua barraca, seus filhos, os avós, todo mundo vai amar. Os adultos mais bem dispostos poderão nadar até uma área cheia de tartarugas. É ver para crer.

- Praia-aquário: Atalaia, uma recompensa depois de 45 minutos de caminhada forte. Praia pequena, cheia de turistas, ideal para os pequenos.

- Praia de tirar o fôlego: Baía do Sancho, considerada uma das praias mais bonitas do mundo, mistura beleza e aventura, mergulho e penhasco. É possível se chegar de barco ou por uma escada entre as pedras. O Luca encarou, aos cinco e aos seis anos, ou seja, nenhum adulto pode correr dessa experiência.

- Melhor praia para sair da areia mergulhando: do Porto, dá para ver tartarugas e raias, a alguns metros da toalha, no ambiente rico de um naufrágio.

- Melhor praia para tirar foto: Baía dos Porcos, em homenagem ao lugar de mesmo nome em Cuba. A água é tão verde, serve lindamente de fundo para aquelas fotos que vão direto para o porta-retrato, sabem? Uma dica básica, que só recebi na minha última visita: do alto do Sancho, a gente caminha uns cinco minutos até um mirante e dá de cara com os Porcos, lá embaixo, com o Morro Dois Irmãos na lateral. Im-per-dí-vel.

- Melhor praia para buscar uma sombra: Boldró porque tem algumas árvores na beira da estradinha, dá para procurar um refresco pós-sol. É simpático demais, o lugar.

- E ainda existem outras praias menores, de passagem, como a do Meio, a do Americano, a do Bode. São menos famosas, talvez por isso mais vazias, ideais para quem não quer dividir o sol com ninguém.

Muita gente me pergunta se acabou o encanto da Noronha que conheci em 1994 e eu tenho a resposta na ponta da língua: não. Hoje temos mais conforto. É possível alugar carro (fundamental com filhos pequenos), comer bem, fazer massagem, ir ao cabelereiro, tomar um drink mais bacaninha. Mas ainda é possível comer sushi no barco, encontrar praia vazia, dar de cara com uma raia-chita no mergulho de cilindro, se emocionar com o por do sol mais lindo do mundo, dançar forró com os locais, caminhar, caminhar, caminhar.

Para crianças, especificamente, existe o planasub: uma pranchinha de acrílico inventada pelo biólogo Leonardo, dono do Museu do Tubarão. O Luca viu o fundo do mar de cima, rebocado, durante 45 minutos, sem cansar ou se assustar. No passeio de barco, dá para procurar golfinhos com os quais, não, infelizmente, não podemos nadar. Mas os barulhinhos, as acrobacias, enchem os olhos da família inteira. O Museu é outro barato, pequeno, aconchegante. A criançada vai gostar de provar o Tubalhau, bolinho típico de carne... de tubarão.

O Tamar oferece uma palestra sobre meio-ambiente por noite, para os que são um pouco mais maduros. É programa, todo mundo que estava na praia estará na palestra. E vice-versa. Por ser o ponto brasileiro mais avançado sobre o Atlântico, Noronha já foi protegida por fortes, hoje em ruínas. Os canhões, as paredes de pedras, os mastros com bandeiras serão palcos de muitas fotos e muitas histórias.

A BR163 tem apenas sete quilômetros, é a menor do Brasil, atravessa a ilha. A estrada asfaltada nos leva a paisagens completamente diferentes entre si, a estradinhas secundárias que parecem cenários de ralis. Um programa completo, para a família toda. Em quatro dias, você vai se sentir local.

Curiosidades sobre Noronha:

- Praticamente todos os estabelecimentos na ilha aceitam cheques, cartões ou dinheiro.
- A linda igrejinha na ponta da ilha só é aberta uma vez por ano, no dia do padroeiro dos pescadores, ou em casamentos.
- A mabuia é um lagarto típico que, de tanto conviver com turistas, não sente medo e vive entrando em nossas bolsas. Diana adorou mexer com elas.

Luca e Diana em Noronha: julho de 2008