quinta-feira, 25 de novembro de 2010

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Com Vitor, até no fim do mundo!

Gisele Taranto é arquiteta e mãe de Vitor. Generosa, divide com a gente um incrível diário de bordo cheio de dicas valiosas para quem quiser embarcar com crianças em uma grande aventura:


"A Patagônia era uma viagem que sonhava há tempos,e fazê-la com o Vitor foi algo muito especial. Eu e meu marido decidimos aproveitar a semana de recesso da escola dele para embarcarmos nesta aventura. Vitor tem 8 anos e ficou completamente encantado com tudo que viu, sentiu e aprendeu.
A viagem do Rio a Puerto Natales levou quase 24h incluindo conexões e esperas em aeroportos. O vôo era Rio/Santiago fazendo escala em SP e Buenos Aires. Depois pegamos outro vôo para Punta Arenas fazendo escala em Puerto Montt. Quando achávamos que já estávamos quase no fim do mundo eis que restavam mais 2:30h de carro até o destino final. Graças ao Nintendo DS, ao Capitão Cueca e a um bloco de papel com lápis, a viagem correu perfeita.

Chegamos num dia completamente nublado e chuvoso e fomos informados que por lá é possível experimentarmos as quatro estações do ano em apenas um dia. Mas demos sorte pois ao chegarmos ao hotel o tempo já havia limpado e chegamos a ver golfinhos da janela do quarto. 

Puerto Natales fica às margens do canal Señoret e de frente para a Cordilheira dos Andes. Foi fundada em 1911 e possui cerca de 16 mil habitantes. Ela é a porta para belíssimas paisagens naturais.

Não somos bons em grandes planejamentos e o improviso sempre faz parte das nossas empreitadas. Confesso que tendo a companhia de uma criança é sempre um risco e uma preocupação. Digo isto porque mesmo depois de estudarmos muito a região pela internet deixamos para acertar os passeios chegando ao local. 

Como era baixa estação deu tudo certo. No próprio hotel agendamos os incríveis passeios. Não somos aficionados por excursões, mas por lá o ideal é aderir a este esquema utilizando uma van.

Dia 1 - Fizemos um passeio de barco maravilhoso de um dia inteiro que leva para conhecer os fiordes, colônia de lobos marinho, trekking por um parque nacional e almoço numa fazenda onde foi servido um carneiro à moda local. A paisagem é inacreditável e, como o dia estava especial, pudemos ver Torres del Paine no horizonte, nosso destino do dia seguinte! Depois de visitarmos a geleira tomamos pisco sour e suco de laranja servidos com gelo retirado das geleiras.

Dia 2 – Visita ao Parque Nacional de Torres del Paine. Antes de irmos ao Parque fomos conhecer o Monumento Natural Cueva del Milodón. Uma caverna onde foram descobertos restos de um animal pré-histórico, conhecido como Milodón. Vitor amou conhecer o local onde ele vivia e ter ido ao museu ver seus ossos. O caminho até o parque é sensacional. Os animais ficam soltos e não existem praticamente construções. Vimos guanacos, condores, ovelhas, flamingos, emus, vacas e zorros (raposas). Só não encontramos nenhum puma, uma pena! O parque é uma das paisagens mais lindas que já conhecemos. Vitor adorou ser quase carregado pelo vento, ver de perto um iceberg e poder tocá-lo, aliás, lambê-lo. Acho que este foi o momento que ele pirou. Ficou enlouquecido segurando um pedaço daquele bloco. A cor do rio também ficará em nossas memórias, pois o azul turquesa é inacreditável.

Dia 3 – Um tanto quanto frustrante pois queria muiiiito poder levá-lo numa pinguineira, confesso que também estava super empolgada com esta idéia, mas infelizmente elas só abririam um dia após nossa partida. Como sou insistente descobri uma fazenda que criava pingüins. Lá fomos nós ao invés de vermos 30.000 pingüins tivemos que nos contentar com apenas 3. Para mim foi um fiasco mas ele adorou mesmo assim. Tirou milhões de fotos e aproveitou para alimentar as lhamas e alpacas.

Nestes passeios sempre estive abastecida de água e lanches, pois é quase impossível comprá-los pela falta de civilização. Mas nos jantares íamos à forra para tentar conhecer a variedade de frutos do mar que existem no Chile. Vitor aprovou o salmão local e nós a centoia, piure e picoroco.

No caminho para o aeroporto perguntei ao motorista se havia hospital na cidade e a resposta, me senti aliviada por já estar chegando ao avião, foi que não havia hospitais, postos e médicos especialistas em Puerto Natales, e que quando alguém passa mal precisa ir para Punta Arenas distante 2h30min.

Viajar com crianças é sempre uma aventura cansativa, mas o encantamento nos olhos delas é muito gratificante e faz valer cada segundo do nosso desgaste."

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Laila na Suíça






Na Suíça com Laila

Por Tania Menai, jornalista, de Nova York

Escrevo a não sei quantos mil pés de altitude, no vôo 65 da American Airlines, Zurique-Nova York. Em frente a mim está um berço preso à parede. E dentro dele, Laila dorme o sono dos justos. Minha filha completou cinco meses de vida durante nossas férias na Suíça, onde passamos – eu e ela – duas semanas visitando amigos em Vevey, no sul, e Zurique, no norte. Epa! Que idéia é essa de tirar uma criancinha de quatro meses e meio do aconchego do lar, embarcar num vôo transatlântico para Londres, trocar de avião, desembarcar em Genebra e ainda encarar mais uma hora de carro até Vevey? Bem, só tenho três pontos a declarar: eu precisava de férias, viajar nunca foi um problema e cuidar sozinha da minha filha, muito menos.

Moramos no Brooklyn, em Nova York. Isso significa, nada de mãe, sogra, cozinheira, arrumadeira, passadeira, lavadeira, folguista ou folguista da folguista (meu computador acaba de sublinhar esta palavra em vermelho, pois nem o Word reconhece). Para falar a verdade, eu dispensaria tudo isso de qualquer forma, porque a filha é minha e cabe a mim cuidá-la. É o maior prazer da minha vida. Meu marido é chef, trabalha mais horas que o meu relógio comporta e férias não fazem parte de seu vocabulário. Portanto, sei que não terei muitas opções: seu eu quiser viajar, vou sem ele. Dito isto, vou relatar aqui algumas experiências e dicas para aquelas mães, ou pais, que vão encarar um kids na estrada com apenas dois braços.

A viagem deu super certo, e o que deu errado eu já, já contarei. A Suíça é o país mais limpo do mundo, tem infra nas calçadas para carrinhos, e não tive problemas em almoçar ou jantar em restaurantes estacionando a Laila ao meu lado. Tudo bem, não vou dizer que eles são apaixonados por crianças, mas são tolerantes. Outro ponto positivo: os trocadores de fralda em aeroportos, restaurantes ou museus são formidáveis. Isso vale também para a fábrica de chocolates Callier e para a Maison Gruyeres. Apenas um restaurante, sofisticado por sinal, não tinha uma estação especialmente para este fim. Mas o maître foi tão bacana, que ele entrou no banheiro feminino comigo para mostrar onde eu poderia trocar a fralda. Nos trens, (viajei com Laila entre Lausanne e Bern) há uma cadeira única na última fila de cada vagão, e lá dá um carrinho certinho. Nem é necessário fechá-lo, basta subir (com ajuda de outra pessoa) e estacionar o carrinho ali. Nos “trams” de Zurique, idem. O quarto vagão é destinado a entrada de carrinhos. O problema é que ainda assim há escadinhas relativamente altas, ou seja, você vai ter que gastar o seu alemão-suíço para pedir ajuda, ou fazer aquela expressão, infalível, de desespero.

Não importa qual o roteiro que você faça na Suíça. As cidades são muito parecidas no aspecto “criança”. Fiquei em casa de amigos em ambas cidades e perambulei com eles de carro para todos os lados: montanhas, fazendinhas com vaquinhas, estradas. Por isso, foi crucial ter levado o meu próprio ‘car seat’. O carrinho era dobrado e alojado na mala do carro e pronto. Laila participou de TODOS os passeios. Fui a vários restaurantes, lojas, feirinhas ao ar livre, museus, e até a uma aula de capoeira na Universidade de Lausanne. Talvez o único porém foi não ter ficado mais tempo na casa onde Albert Einstein escreveu a Teoria da Relatividade, em Bern. Ele morava no segundo andar e a escada era daquelas que dão voltas. Carrinho nem pensar. Elevador, muito menos.

O que deu errado? A decolagem em Nova York. Dei mamadeira no aeroporto, antes de passar pela segurança. Pensei que ela não teria fome por um bom tempo. Erro! Laila começou a pedir mais mamadeira quando a aeronave estava na fila para decolar. Só que no aeroporto JFK isso pode demorar demais. A aeromoça (pausa: os tripulantes americanos não estão nem aí pra crianças e não ajudam em NADA – inclusive, uma delas rejeitou dar uma garrafinha d’água para outra mãe), colocou a bolsa de bebê no compartimento acima, apesar do meu pedido para tê-la perto de mim. Na decolagem, Laila começou a berrar de dor de ouvido (algo inédito para uma criança zen budista como ela).

Pedi, gentilmente, para um homem ao meu lado, de uns cinqüenta anos e quase dois metros de altura para, por favor, alcançar a bolsa para mim. Ele se recusou - friamente. Não tive dúvidas: olhei para o outro lado e coloquei a Laila – aos berros – no colo de um garotão surfista (que nunca tinha segurado nem uma boneca), levantei, estiquei-me toda e peguei a bolsa com o avião quase na vertical. Abri a bolsa, peguei a fórmula, misturei com água, peguei a Laila de volta e enfiei a mamadeira em sua boca. Ufa. Não sei quanto tempo tudo isso durou, mas para uma mãe com um bebê berrando, pareceu eterno. O tal cinqüentão ficou tão sem jeito, que ao pousar em Londres (onde conectamos para Genebra) ele se ofereceu para ajudar com as minhas malas de mão. Coloquei o homem pra carregar tudo. Como há gente infeliz neste mundo!

Bom, humildemente, aqui vão algumas dicas de viagem com ou sem criança:

- Mala pequena. Precisamos de muito menos coisas do que pensamos. Duas semanas? Duas calças, uma bota e um chinelo. Leve o básico (para que colocar na mala uma blusa roxa que não vai combinar com nada?).

- Calce um sapato fácil de tirar em aeroporto, nada de cinto ou penduricalhos que apitem ao passar na segurança.

- Passaporte em dia e na mão. Nunca embarque com documentos prestes a vencer.

- Saiba como você vai sair do aeroporto (metrô, taxi, ônibus) e quanto custa, para não ter surpresas. Saiba também onde vai dormir, pelo menos na primeira noite!

- Chegue no país de destino com a moeda local já trocada. Nunca se sabe se o avião vai atrasar e você vai chegar no destino final sem dinheiro. Não, eles não vão aceitar o seu realzinho!

- Leia antes sobre gorjetas, telefones, farmácias, água potável, costumes locais.

- Não me chegue no Marrocos de mini-saia, por exemplo.

Com um bebê tudo isso vale. E ai sim, vamos adicionar mais (muito mais) detalhes:

- Ao reservar a passagem, pergunte sobre a opção do berço. Algumas companhias, como a TAM, cobram 50 dólares, mas mesmo assim não garantem a vaga. Cada aeronave comporta um ou dois apenas e é de quem chegar primeiro no check-in. Ou seja, dê adeus àquele estilo de vida no qual você chegava esbaforida oito minutos antes de o avião decolar. Eu dei!

- Ligue para o consulado do país de destino e veja se o pai ou mãe que não vão viajar devem (ou não) fazer um documento autorizando a saída e entrada do bebê com o outro pai (ou mãe). O Brasil pede isso – e é uma burocracia absurda. A Suíça não pede nada. Uma tranqüilidade.

- Ao decolar e aterrissar, dê o peito ou mamadeira. Eles precisam engolir para não ter dor de ouvido. Não preciso contar o resultado, certo?

- Não saia de casa com a mentalidade de que as pessoas vão te ajudar (na realidade, você precisaria ser um polvo para dar conta do recado, entre bebê, passaporte, cartão de embarque, mala de mão, bolsa de fraldas, urso de pelúcia, e casaco). Só vai te ajudar quem já é mãe ou pai e já passou por isso. Caso contrário, não tenha vergonha de pedir.

- Na American Airlines, por exemplo, os comissários de bordo me vieram com essa: não são autorizados a segurar a nossa bagagem de mão. Ao desembarcar em Genebra eu disse: “então você vai ter que escolher entre o bebê e o meu laptop, porque alguém tem que abrir o carrinho, pegar a bolsa de fraldas, forrar o carrinho com o “Bundle me” (forro de inverno) e eu só tenho duas mãos”. Ele se rendeu ao laptop. Acho que no Brasil, os comissários são mais humanos, assim como os passageiros. Em países nórdicos, esqueça!

- Leve para a viagem o que te conforta e o que conforta o bebê: a Laila dorme com o coelhinho dela. E aqui está ele. Os bebês precisam reconhecer algo familiar. Eu trouxe o carrinho (o City-Mini é febre em Nova York, por ser leve, dobrar com um movimento, ser barato e ainda ter um adaptador para colocar o ‘car seat’, o qual também levei – é obrigatório na Suíça).

- Com uma criança de colo (que paga 10% da tarifa integral da passagem aérea), você tem direito a despachar o car seat, alem de suas duas malas numa viagem internacional. O carrinho você leva até a porta da aeronave, dobra e os caras te devolvem quando o avião pousar, também na porta.

- Não deixe para comprar no outro país prioridades como fralda, fórmula ou chupeta. Você não quer arriscar estragar os seus dias de passeio porque seu bebê não se adaptou a isso ou aquilo. Tive que comprar fralda e fórmula (depois de pedir dicas para uma amiga inglesa, cuja filha tem a mesma idade) porque calculei mal – ambos acabaram quatro dias antes do previsto. Resultado: gastei uma fortuna à toa, porque a Suíça é um dos países mais caros do mundo. Mas qual mãe economiza nessas horas?

- Descobri que numa viagem os bebês comem mais: é muita novidade pra eles! Tenha isso em mente!

- Não espere que todos os lugares aceitarão crianças ou serão generosos com elas. Ciente disso, você não vai se decepcionar quando fizerem cara feia para adaptar o seu carrinho no canto da mesa de um restaurante. De qualquer forma, antes de entrar com o carrinho, pergunte antes se eles aceitam. Vale a pena ler também (na internet) as regras dos museus ou lugares a serem visitados.

- No Kunsthaus, ou museu de arte, de Zurique, é proibido entrar nas exposições com badulaques no carrinho. Nada de água, mamadeira e aquelas mil e uma tralhas que a gente acumula embaixo do assento. No subsolo há um armário, onde se deixa tudo isso – parece academia de ginástica. Você deposita dois francos para adquirir a chave, e ao reabrir o armário, a moeda cai de volta. Por sinal, a Laila amou a mostra do Picasso, curada por ele mesmo em 1932.

- Um dos meus maiores medos? O jetlag. Há seis horas de diferença no fuso entre Nova York e Suíça. Sabe-se lá como, a Laila se adaptou no mesmo dia. Quero só ver na volta!

- Berço: certifique-se se no hotel ou casa de amigos há um. De qualquer forma, leve os apetrechinhos que fazem o bebê dormir, e, se precisar, o baby-monitor (com o adaptador de tomada, se necessário). A Laila foi treinada desde o primeiro dia de vida a dormir sozinha no berço. Foi assim agora no berço do avião. A aeromoça ficou encantada (e acredito que os passageiros em volta também!).

- No vôo Londres-Genebra não há berço. Solução: Ergobaby, ou canguru. Num vôo de duas horas, é uma boa pedida.

- Banho: minha pediatra, nova-iorquina, fala para não dar banho de banheira todos os dias porque a pele de bebês ainda não comporta isso.

- Três produtos que aconselho (mas, claro, quem não tiver não precisa se estressar). O carrinho City Mini http://www.babyjogger.com/city_mini_lp.aspx), o Travel Crib Light da Baby Bjorn (http://www.babybjorn.com/us/products/sleep/travel-crib-light/travel-crib-light/) e e o Ergo-Baby (http://www.ergobabycarrier.com/).

No mais, aproveite os chocolates e os fondues. E boa viagem!