quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Paris avec les enfants

Em novembro de 2008, nossa família tomou uma decisão muito difícil, da qual ninguém se arrependeu ainda: levar o Luca - então com seis anos - para Paris, deixando para trás a pequena Diana, de dois aninhos. Eu sei que um dia ela vai me torturar com essa informação, mas a verdade é que tínhamos uma chance única nas mãos: passar uma semana no apartamento de um casal amigo que tem um filho maravilhoso, na época com sete anos. Chegar com dois filhos e um carrinho de bebê nos parecia abuso demais e queríamos aproveitar cada segundo. Foi o que aconteceu.

(Ficar ou não ficar hospedado na casa de amigos é uma discussão que merece um capítulo à parte, mas, adianto que até hoje eu nunca me arrependi de hospedar ou de ser hóspede.)

Para conquistar os meninos logo de cara, no primeiro dia em Paris, levamos Luca e Pedro de RER para a Disney. O trajeto não leva nem uma hora, o trem é seguro e confortável. Nosso grupo só não teve sorte com a data. Seria feriado na terça-feira, ou seja, o parque naquele sábado estava lotado de franceses. O que não tirou o brilho de nossas atrações preferidas de Orlando com sotaque local: montanha-russa do Nemo, do Aerosmith, Space Mountain, o doce passeio do Peter Pan, Piratas do Caribe, Buzz Light Year, a Casa Mal Assombrada e assim por diante. Bateu culpa por Diana não estar junto, então, compramos roupinha da Minnie e um monte de brinquedinhos para ir entregando aos poucos para a Diana.

- Mamãe meu - ela repetia ao telefone - te amo, papai.

(Culpa, muita culpa.)

O domingo me lembrou os tempos de Nova York (onde moramos de 2004 a 2006). Depois da canseira da Disney e por causa do fuso horário, acordamos tarde para um longo brunch em casa. Os melhores queijos, as baquetes mais deliciosas, o papo ótimo de sempre. Mas Pedrinho estava ansioso para mostrar o Museu de História Natural para o Luca, com destaque para a Grande Galeria da Evolução. Os bichos empalhados revelam um cuidado imenso, a forma respeitosa com a qual o conhecimento é dividido com as crianças. Uma reprodução de Lucy, fóssil de três milhões de anos encontrado na Etiópia em 1974 - "a mãe de todos nós", dizia o Pedro - e o elefante que trabalhou em circo quando vivo foram palcos de verdadeiras aulas do nosso anfitrião.

- Eu sei, dizia o Luca, para tudo.
- Mas, Luca, por que voce diz que sabe tudo? Não sabe que aprender é tão bom quanto saber? - questionava Pedro, sabido demais para seus 7 anos.

O Museu, que também tem uma galeria enorme de esqueletos e fósseis de dinossauros e animais mais jovens (!), fica no Jardin des Plantes, ao lado da Mesquita de Paris. Em uma enorme alameda de folhas amareladas pelo outono, nossas crianças brasileirinhas aproveitaram um carrossel de bichos, que parecia de cinema.

No almocinho na Brasserie Les Ondes, perto de casa, o Luca provou os escargots pelos quais o Pedro era apaixonado. "Não gostei do alho, mamãe, é forte!" (Um ano mais tarde, em Nova York, numa segunda tentativa, Luca raspou o prato!)

Depois de um almoço gostoso, o Lúcio provou mais uma vez ser um bom pai e um bom marido. Levou as crianças para casa enquanto minha amiga e eu vimos duas belas exposições no Grand Palais: "Emile Nolde" e "Picasso et les maïtres". Viajar em família é exercer a generosidade, sabiam?!

É também traçar metas, diariamente. Numa segunda-feira fria, Lúcio, Luca e eu abrimos os trabalhos na Notre-Dame. Como já tínhamos lido o "Corcunda de Notre Dame", gastamos uns bons minutos imaginando se Quasimodo estaria lá, com os sinos que badalaram no momento em que chegamos ao lugar. (Pausa: Luisa e eu acreditamos sinceramente que é preciso envolver a criança desde muito antes da viagem, mostrar livros, guias na internet, atiçar a curiosidade de nossos pequenos.)

Voltando ao roteiro, tomamos café e sorvete Berthillon na apaixonante Ïle Saint Louis e gastamos alguns minutinhos namorando a Pylones (que existe em diversos outros lugares de Paris e NY) e a Arche de Noë - de brinquedos educativos e irresistiveis na rua principal. Passeamos pela Place Dauphine, na Ïle de la Cite, dica da carioca mais francesa do mundo, Isabela Caban. Andamos mais, andamos muito, deveríamos ter alugado as bicicletas disponíveis em todo canto de Paris.

Na Rue du Bac, depois de olhar de loooonge o d'Orsay e o Louvre (confesso que não quis encarar filas com o Luca), garanti medalhinhas da Nossa Senhora da Medalha Milagrosa para amigos e família e entrei em transe com o bom gosto do Bon Marché - a loja de departamentos - e da Grande Epicerie, no térreo - um mundo de temperos e coisinhas geniais para a cozinha. A gente gastou um bom tempo para escolher a nossa nova mania: a flor de sal de Guerande.

"A melhor e a mais rara forma de Sal, a Flor de Sal é a fina camada cristalizada na superfície das salinas em dias de vento, quentes e secos. Coletada a mão, seca ao sol e ao vento, a Flor tem um sabor incomparável. Guérande, na província francesa da Bretagne, é sua melhor origem."

Voilá! O Luca não entendeu tanta euforia, mas percebeu que o azeite nunca mais seria servido da mesma forma...! Ah, esses adultos, se empolgam com cada coisa!

A última parada do dia foi na Du Pareil au Meme (a Baby Gap francesa que vestiu o Luca depois de uma temporada de liqüidação em que ele ainda estava na barriga!). Ah, o Euro...

Depois de dias nublados, o sol de terça-feira combinava com a programação da hora. No Bois de Bologne (que, no feriado por causa dos 90 anos da I Guerra Mundial, parecia Central Park aos domingos), entramos no Jardin d'Acclimatation. Quem quer que viaje com crianças para Paris TEM de conhecer. Tem fazendinha, pracinhas de areia, pais com seus filhos de todas as idades, brinquedos da nossa infância, bate-bate, montanhas-russas, chapéu mexicano, muito espaço, muita beleza. O Luca amou. Disse que tanto quanto a Disney. Surtou ao escalar essa enorme "pirâmide de cordas".

Chegou exausto à brasserie da Printemps, a famosa loja de departamentos. O Phillipe Starck realçou a linda cúpula de vitrais no teto ao posicionar mesas espelhadas para os clientes. Luca conseguiu derrubar uma cadeira, o que nos matou de vergonha. Risos. Mas a comidinha estava ótima. E eu nunca vou me esquecer de que foi lá que provamos de sobremesa o famoso Mont Blanc da Angelina.

Estava na hora de bater perna na Champs Elysees. Luca e Pedro se encantaram com a La Grande Recree, uma lojona de brinquedos, com todas as marcas americanas e francesas: bolinhas de gude e material para maquetes são a nova mania da dupla.

No dia seguinte, depois de almoçar em casa um delicioso cassoulet da lata (uma espécie de feijoada de feijão branco, lingüiça e carne de pato, comprada em supermercado, semi-pronta), Lúcio, Luca, eu, Pedrinho e Graziela (prima do Pedro) seguimos na linha 7 do metrô do Palais Royal/Louvre até La Villette, um mundo de ciência na ponta de Paris.

Houve um contratempo aí. Eu não conferi direitinho os horários. Optei por assistirmos primeiro um filme em 3D (uma versão reduzida de "Mosconautas") e andar de simulador Cinaxe (sobre os mesmos "Mosconautas"). As crianças adoraram, nós adultos também - mas fiquei com pena de não conhecer as outras exposições, onde não dava pra entrar depois das 16h. Queria muito ver nossos visitantes-mirins com a mão na massa, nas experiências.

- Ah, Cris, o museu é público, os funcionários vão embora cedo - me explicou minha amiga, já acostumada ao ritmo francês de 35 horas de trabalho por semana.

Turista tem de ser esperta. Tem de olhar, anotar, pesquisar antes de viajar. Quem mandou não conferir?!

No dia seguinte, enquanto o Luca e o Lúcio decidiram subir a Torre Eiffel (no momento em que agricultores franceses faziam seu protesto com ovelhas no Campo de Marte), Sônia e eu batíamos perna no Marais. Ah, o Marais!

Ok, essa não é uma programação para filhos. Mas, se a mãe em questão conseguir uma tarde livre, segue um roteirinho delicioso que fiz com minha amiga.

Nosso ponto de partida foi o Hotel de Ville, seguindo pela calmíssima Place Sainte Gervais, pela Rue Pont Louis Philippe (papelarias chiques, galerias), pela Rue François Miron (o número 13 sustenta as paredes tortas de uma casa do século XV e a Sentou, loja de decoração com peças do Noguchi), continuando pelo imperdível Hotel des Sens (que já serviu de cenário para as excentricidades da Rainha Margot, que tem uma bola de canhão cravada no muro e hoje é uma biblioteca pública), a Village Saint Paul (um conjunto de prediozinhos com antiquários) e um café para descansar no solzinho de 12oC na Place des Vosges. O que mais poderíamos querer? Rue Franc des Bourgeois! Uma ao lado da outra, MAC, Khiels, Camper, Chaise Longue, Estephan - eu poderia passar o dia por lá. Mas precisávamos (!) almoçar no KONG! No topo da loja do Kenzo, a linda vista que a Rue Pont Neuf pode oferecer, uma comida razoável e a decoração fresca de Philippe Starck. De volta ao Marais, caminhei mais um pouco pela Rue des Rosiers (comprei chá verde com flores da Provence na Marriage Freres), pela Blanc Manteaux (valeu, Bela, pela dica da Les Touristes, com suas batas indianas, seus cheirinhos e paninhos parisienses) e retornei para o Hotel de Ville.

Era hora de pegar o ônibus, voltar pra casa, trocar de roupa e jantar com os amigos na tradicional Veaudeville, brasserie freqüentada por parisienses, em frente à antiga Bolsa. Porções pequenas e deliciosas. Sopinha de cebola, rodelinhas de cordeiro, hum...!

O despedida em Paris foi longa, com uma caminhada pela manhã no Quartier Latin, com destaque para a Rue Saint Andre des Arts. Visitamos lojinhas, saboreamos crepes de Nutella, passamos por barracas de frutas, verduras, crustáceos - e entramos na Eva Baz'Art (uma espécie de Pylones, mais voltada para a cozinha). O Luca acompanhou bem o passeio pela Rue de Buci, pela Rue Bonaparte (onde suspiramos pelos macaroons coloridos da Pierre Hermés, pela doçura da marca Berenice e pela chiquérrima Max Mara), pela Rue de Four (onde comprei uma sapatilha Repetto para a Diana, reparem na culpa novamente) e seguiu firme até o Le Procope, restaurante de 1686, conhecido pelo Coc Au Vin. "Parece um museu", reparou o Baby depois de conhecer o segundo andar, lindíssimo.

A gente pensou muito se deveria levar a Diana para Paris. O objetivo era visitar nosso casal de amigos e o filho, Pedro. Lúcio e eu decidimos, desta vez, privilegiar o Luca. Ele certamente curtiria mais a viagem, teria mais pique, entenderia a questão da distância e aproveitaria a rotina ao lado do Pedrinho.

Por isso, Diana e babá seguiram para o Rio Grande do Sul, onde nossa pequena foi mimada até onde pôde pela madrinha, ganhou beijos, aproveitou colos de avós, aprendeu todos os nomes da enorme família do Lúcio, correu, brincou, visitou a prima Manu (parceira da aventura em Fernando de Noronha), comeu pão preto com geléia de manhã... Uma infância assim, a gente não esquece. Nada substitui tanto amor. Nem mesmo uma volta pelo rio Sena.

Um comentário:

  1. estou encantada com o seu blog. tenho um de dicas (a maioria delas em sp) - que ainda engatinha - e adoraria postar sobre o seu, posso?

    adorei as dicas de paris com os pequerruchos. já anotei e vou conferir em breve, se Deus quiser.

    bjo,

    ana paula

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